Crise dos Alimentos
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Crise dos Alimentos
Saiba mais sobre a crise mundial dos alimentos
Terça, 3 de junho de 2008, 8h06
Daniel Gallas
Os líderes mundiais se reúnem nesta semana em Roma, na Itália, para discutir a crise mundial provocada pelo aumento do preço dos alimentos. A cotação de commodities no mercado internacional aumentou muito desde o começo do ano, provocando desabastecimento, violência e mais pobreza. Confira abaixo algumas perguntas e respostas sobre a crise.
O que aconteceu com o preço dos alimentos? O preço dos alimentos subiu em média 83% nos últimos três anos, segundo o Banco Mundial. Em apenas um ano, houve fortes aumentos na cotação internacional do milho (31%), do arroz (74%), da soja (87%) e do trigo (130%). Segundo a FAO e a OCDE, os preços devem se manter altos nos próximos dez anos.
Quem foram os mais afetados pela crise? As pessoas mais pobres em várias partes do mundo são as mais afetadas. Por exemplo, estima-se que, após o aumento dos preços, uma família pobre em Bangladesh precisa usar metade da sua renda diária para comprar apenas dois quilos de arroz.
O Banco Mundial estima que 100 milhões de pessoas caíram para baixo da linha da pobreza, sobrevivendo com US$ 1 por dia, nos últimos dois anos, e que o aumento no preço dos alimentos seria o principal motivo.
Segundo a FAO, a região mais atingida é a África Subsaariana, onde estão 21 dos 36 países com crise de segurança alimentar. A região importa 45% do trigo e 84% do arroz consumido.
A crise provocou violência e desabastecimento em vários lugares do mundo, como Haiti, Indonésia, Egito.
Que fatores estão levando ao aumento do preço dos alimentos? Acredita-se que diferentes fatores ontribuem para o aumento do preço. Entre eles estão:
- O aumento do preço dos combustíveis e insumos energéticos, que afetam toda a cadeia de produção, desde o custo de produção (para abastecer tratores, por exemplo) até a ponta final (preço do transporte dos alimentos).
- Especulação no mercado internacional de commodities, cujo volume de negócios aumentou mais de dez vezes nos últimos quatro anos, atingindo US$ 150 bilhões.
- O aumento da produção de biocombustíveis no mundo, que destina cada vez mais terra para produção de combustíveis, em detrimento dos alimentos.
- A melhoria na qualidade de vida de países emergentes de grande população, como China e Índia. As pessoas nesses países estão comendo mais laticínios e carnes, o que aumenta a demanda e o preço dos alimentos.
- Secas em diferentes partes do mundo, que provocaram uma queda na produção de grãos.
- A queda da cotação do dólar no mercado internacional, provocando uma fuga de investidores em direção ao mercado de commodities.
Especialistas e líderes mundiais ainda não chegaram a um consenso sobre o peso específico que cada um desses fatores tem isoladamente no aumento dos preços.
Que conseqüências a crise tem no Brasil? Além de poder provocar uma inflação em itens da cesta básica,
atingindo principalmente os mais pobres, a crise afeta o Brasil em um momento em que o governo lança uma ofensiva para promover o etanol à base de cana-de-açúcar no mundo - aproveitando uma onda mundial de protestos contra mudanças climáticas e combustíveis fósseis.
A crise dos alimentos levou muitos países a rever suas políticas de incentivo a biocombustíveis. Nos Estados Unidos e na União Européia, alguns legisladores já estão pedindo a revisão de programas e metas de incentivo a biocombustíveis.
Por outro lado, a alta do preço dos alimentos também beneficia alguns produtores rurais, já que o Brasil é um grande exportador de alimentos.
Como o governo brasileiro reagiu à crise? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito que a crise reflete um problema de transferência de renda, já que são as pessoas mais pobres que estão sendo mais gravemente afetadas.
Além disso, o governo brasileiro argumenta internacionalmente que o etanol à base de milho - produzido nos Estados Unidos - estaria causando aumento no preço internacional do grão, elevando preço de rações e carne. Já o etanol brasileiro - à base de cana-de-açúcar - não estaria contribuindo para a crise, já que o açúcar não é uma das commodities em forte alta.
No entanto, críticos dizem que muitas das terras e recursos brasileiros usados para produção de etanol poderiam ser utilizados para produção de alimentos. Também há críticas sobre o impacto ambiental e as condições de trabalho dos empregados da indústria da cana brasileira.
O que deve acontecer na Cúpula da FAO em Roma? O encontro de junho em Roma é o maior evento reunindo chefes de Estado e líderes globais desde o começo da crise da alta do preço dos alimentos.
É pouco provável que a declaração final do encontro provoque alguma mudança nas políticas adotadas por cada um dos países, segundo altos representantes da FAO e da ONU ouvidos pela BBC Brasil. Mas o encontro em Roma é importante, segundo eles, para que os líderes globais façam pressão em blocos ou em conversas separadas.
Por exemplo, dificilmente a declaração final do encontro fará um repúdio à decisão do Vietnã de restringir em parte a exportação de arroz, de olho no mercado interno. A declaração final precisa de consenso, inclusive com aval do país. No entanto, alguns chefes de Estado devem pressionar os líderes vietnamitas em conversas separadas.
BBC Brasil
Terça, 3 de junho de 2008, 8h06
Daniel Gallas
Os líderes mundiais se reúnem nesta semana em Roma, na Itália, para discutir a crise mundial provocada pelo aumento do preço dos alimentos. A cotação de commodities no mercado internacional aumentou muito desde o começo do ano, provocando desabastecimento, violência e mais pobreza. Confira abaixo algumas perguntas e respostas sobre a crise.
O que aconteceu com o preço dos alimentos? O preço dos alimentos subiu em média 83% nos últimos três anos, segundo o Banco Mundial. Em apenas um ano, houve fortes aumentos na cotação internacional do milho (31%), do arroz (74%), da soja (87%) e do trigo (130%). Segundo a FAO e a OCDE, os preços devem se manter altos nos próximos dez anos.
Quem foram os mais afetados pela crise? As pessoas mais pobres em várias partes do mundo são as mais afetadas. Por exemplo, estima-se que, após o aumento dos preços, uma família pobre em Bangladesh precisa usar metade da sua renda diária para comprar apenas dois quilos de arroz.
O Banco Mundial estima que 100 milhões de pessoas caíram para baixo da linha da pobreza, sobrevivendo com US$ 1 por dia, nos últimos dois anos, e que o aumento no preço dos alimentos seria o principal motivo.
Segundo a FAO, a região mais atingida é a África Subsaariana, onde estão 21 dos 36 países com crise de segurança alimentar. A região importa 45% do trigo e 84% do arroz consumido.
A crise provocou violência e desabastecimento em vários lugares do mundo, como Haiti, Indonésia, Egito.
Que fatores estão levando ao aumento do preço dos alimentos? Acredita-se que diferentes fatores ontribuem para o aumento do preço. Entre eles estão:
- O aumento do preço dos combustíveis e insumos energéticos, que afetam toda a cadeia de produção, desde o custo de produção (para abastecer tratores, por exemplo) até a ponta final (preço do transporte dos alimentos).
- Especulação no mercado internacional de commodities, cujo volume de negócios aumentou mais de dez vezes nos últimos quatro anos, atingindo US$ 150 bilhões.
- O aumento da produção de biocombustíveis no mundo, que destina cada vez mais terra para produção de combustíveis, em detrimento dos alimentos.
- A melhoria na qualidade de vida de países emergentes de grande população, como China e Índia. As pessoas nesses países estão comendo mais laticínios e carnes, o que aumenta a demanda e o preço dos alimentos.
- Secas em diferentes partes do mundo, que provocaram uma queda na produção de grãos.
- A queda da cotação do dólar no mercado internacional, provocando uma fuga de investidores em direção ao mercado de commodities.
Especialistas e líderes mundiais ainda não chegaram a um consenso sobre o peso específico que cada um desses fatores tem isoladamente no aumento dos preços.
Que conseqüências a crise tem no Brasil? Além de poder provocar uma inflação em itens da cesta básica,
atingindo principalmente os mais pobres, a crise afeta o Brasil em um momento em que o governo lança uma ofensiva para promover o etanol à base de cana-de-açúcar no mundo - aproveitando uma onda mundial de protestos contra mudanças climáticas e combustíveis fósseis.
A crise dos alimentos levou muitos países a rever suas políticas de incentivo a biocombustíveis. Nos Estados Unidos e na União Européia, alguns legisladores já estão pedindo a revisão de programas e metas de incentivo a biocombustíveis.
Por outro lado, a alta do preço dos alimentos também beneficia alguns produtores rurais, já que o Brasil é um grande exportador de alimentos.
Como o governo brasileiro reagiu à crise? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito que a crise reflete um problema de transferência de renda, já que são as pessoas mais pobres que estão sendo mais gravemente afetadas.
Além disso, o governo brasileiro argumenta internacionalmente que o etanol à base de milho - produzido nos Estados Unidos - estaria causando aumento no preço internacional do grão, elevando preço de rações e carne. Já o etanol brasileiro - à base de cana-de-açúcar - não estaria contribuindo para a crise, já que o açúcar não é uma das commodities em forte alta.
No entanto, críticos dizem que muitas das terras e recursos brasileiros usados para produção de etanol poderiam ser utilizados para produção de alimentos. Também há críticas sobre o impacto ambiental e as condições de trabalho dos empregados da indústria da cana brasileira.
O que deve acontecer na Cúpula da FAO em Roma? O encontro de junho em Roma é o maior evento reunindo chefes de Estado e líderes globais desde o começo da crise da alta do preço dos alimentos.
É pouco provável que a declaração final do encontro provoque alguma mudança nas políticas adotadas por cada um dos países, segundo altos representantes da FAO e da ONU ouvidos pela BBC Brasil. Mas o encontro em Roma é importante, segundo eles, para que os líderes globais façam pressão em blocos ou em conversas separadas.
Por exemplo, dificilmente a declaração final do encontro fará um repúdio à decisão do Vietnã de restringir em parte a exportação de arroz, de olho no mercado interno. A declaração final precisa de consenso, inclusive com aval do país. No entanto, alguns chefes de Estado devem pressionar os líderes vietnamitas em conversas separadas.
BBC Brasil
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